Viajar virou um sacrifício no RN
Viajar entre as cidades do Rio Grande e de outros Estados brasileiros usando as empresas de transporte de passageiros do Estado se tornou um ato de bravura. A frota de ônibus que presta o serviço de transporte interestadual está envelhecida e não são poucos os problemas relatados pelos usuários. Ônibus sujos e quebrando com frequência não é nenhuma novidade. Além disso, horários não são cumpridos e os passageiros precisam esperar mais que o previsto.
A Nordeste, maior empresa do setor no Estado, é o alvo das principais reclamações, mas sobra também para a Jardinense e outras empresas menores.
A reportagem do JORNAL DE FATO conversou com vários passageiros e esteve também na rodoviária do município do Assú ouvindo relatos de quem viaja com frequência.
A reclamação mais ouvida foi com relação ao péssimo estado dos veículos.
O estudante Gustavo Freitas do Nascimento faz um curso de pós-graduação em Natal e viaja três vezes por semana para a capital do Estado. Ele relatou pelo menos três problemas nos serviços prestados pela Nordeste. "O ônibus sempre atrasa. O ar-condicionado quando funciona não é bom e ainda tem a quebradeira", elencou.
Gustavo deu uma dica para quem vai começar a viajar pelo Estado. "A saída é se acostumar com os problemas, do contrário a pessoa pode ter um infarto", salientou.
A representante comercial Ana Cristina de Morais já passou pelos mesmos problemas do estudante. Ela ainda acrescentou um problema que os homens não observam bem: a falta de limpeza dos veículos. "Parece que eles (ônibus) nunca são lavados, tamanha é a sujeira", relatou.
Apesar de tudo, o que mais preocupa os usuários mesmo são os problemas mecânicos, que podem resultar em acidentes. "Atrasos, ar-condicionado quebrado e sujeira eu levo na esportiva, mas os problemas mecânicos me deixam preocupada. Afinal, minha vida está em jogo", ressaltou Ana Cristina.
Ela tem motivo para se preocupar. Não são poucos os acidentes envolvendo ônibus de empresas de transporte de passageiros.
Na terça-feira, 26, , por exemplo, um veículo da Jardinense capotou na RN-427, entre os municípios de Caicó e Jardim do Seridó, deixando dezenas de feridos.
O motorista disse que não teve como controlar o ônibus na curva. Entre outras coisas, os pneus do veículo estavam completamente carecas, o que denuncia a falta de manutenção.
A situação é tão grave que um ônibus da Nordeste fica constantemente na rodoviária de Assú aguardando que outro apresente problemas.
A boa notícia é que a má qualidade dos serviços pode resultar na exclusão das empresas do sistema. Segundo a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), a Autorização Especial poderá ser revogada na hipótese de a empresa não estiver prestando o serviço adequado de transporte coletivo rodoviário interestadual de passageiros.
Para a ANTT, serviço adequado é o que satisfaz as condições de pontualidade, regularidade, continuidade, segurança, eficiência, generalidade e cortesia na sua prestação. Coisas que não acontecem atualmente.
Empresas operam com autorização especial
As permissões para as empresas que operam o transporte interestadual foram extintas em outubro de 2008, quando a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) iniciou o processo de licitação. Atualmente, as empresas operam com autorização em regime especial até o final de 2011 ou até que seja concluído o processo de licitação (o que ocorrer primeiro).
Atualmente, dez empresas operam linhas interestaduais no Rio Grande do Norte. São elas: Auto Viação Jardinense Ltda., Cia. São Geraldo de Viação, Empresa Auto Viação Progresso S.A., Empresa Gontijo de Transportes Ltda., Expresso Guanabara S.A., Expresso Paraibano Ltda., Expresso Vale do Jaguaribe S.A., Viação Itapemirim S.A., Viação Nacional S.A. e Viação Nordeste Ltda.
Para realizar serviço regular de transporte de passageiros, a empresa deverá obter outorga de permissão em decorrência de processo licitatório.
Segundo a ANTT, as empresas que já atuam no Estado não levam nenhuma vantagem no processo licitatório. "O processo licitatório estabelece os referenciais de qualidade dos serviços e a forma de seleção para escolha da melhor proposta apresentada pelas proponentes qualificadas", explicou a ANTT.
* Jornal de Fato
segunda-feira, 2 de maio de 2011
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