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domingo, 24 de julho de 2011

Estado adota modelo japonês para combater crimes em Natal

Um modelo de segurança que teve origem no Japão é a aposta do Governo do Estado para reduzir os índices de criminalidade na capital e no interior do Rio Grande do Norte. Na semana passada, foi implantado o projeto "Comunidade em paz", que reúne quatro programas visando garantir mais segurança para a população: Ronda Cidadã, Patrulhamento Inteligente, Olhar Seguro e Sertão Seguro. A intenção é reduzir em até 70% os índices de criminalidade nas localidades onde serão implantados.

O modelo é inspirado no método Koban, criado pela Polícia Metropolitana de Tóquio, no Japão, no longínquo ano de 1874, mas que apresenta resultados positivos no mundo inteiro até hoje. A fórmula adotada pelo Estado também bebe na fonte de dois projetos já desenvolvidos no Brasil: o Ronda do Quarteirão de Fortaleza (CE) e as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPP's) do Rio de Janeiro.

Koban é a forma de trabalho da Polícia Comunitária japonesa, onde três policiais trabalham por turnonuma base e tem como missão ouvir opiniões dos moradores a respeito da segurança, além de participar das atividades da população local, sem deixar de garantir a segurança com o trabalho ostensivo. Tal como os japoneses, os policiais comunitários do Rio Grande do Norte vão desenvolver campanhas de combate ao crime, atender ocorrências e orientar a comunidade na prevenção de ocorrências de trânsito.

"É o policial ainda mais próximo da comunidade. Ele será um agente facilitador da vida na comunidade não apenas para os problemas de polícia, mas também se envolvendo em questões como limpeza urbana, buracos nas ruas e falta de iluminação", explica o coronel Francisco Araújo Silva, comandante da Polícia Militar do Rio Grande do Norte. O trabalho ostensivo não muda, mas a filosofia da abordagem sim. O modelo utilizado no Rio Grande do Norte será um pouco diferente do método japonês. "Lá é obrigatório que o policial more na comunidade onde trabalha. Aqui tentaremos lotá-lo o mais próximo possível à sua casa, mas issonão será obrigatório", explicou o delegado da Polícia Federal, Silva Júnior, atual secretário adjunto de Segurança Pública do Estado.

Ao contrário do que possa parecer, esses policiais não deixarão de fazer autuações e o trabalho ostensivo. "A polícia comunitária era muito filosófica e pouco prática. Queremos mudar isso integrando o policial às atividades diárias da comunidade, nos conselhos, na conversa com os comerciantes. Para isso ele contará com ajuda para fazer trabalhos educativos contra as drogas e oficinas de promoção do esporte e do lazer", disse Silva Júnior. Aos bandidos, um recado: não se enganem, pois "o objetivo maior, sem dúvida, é combater o crime. Queremos reduzir os índices de violência", frisou o coronel Araújo.

Segundo o Governo, o Ronda Cidadã é o programa-piloto, e já começou a funcionar no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, Zona Norte da capital, identificado pelo Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) como o local que necessita de um policiamento mais ostensivo por liderar o número de ocorrências em Natal. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o bairro concentra 9,92% da população da capital, com 79 mil habitantes.

Parque dos Coqueiros, Planície das Mangueiras e Jardim Progresso: as três bases fixas comunitárias do bairro vão funcionar 24 horas por dia. Elas estão sendo reformadas, dotadas de móveis novos, computador de mesa e notebook, máquina fotográfica, beliche, geladeira, televisor e rádio de comunicação de tecnologia digital. Os banheiros serão reformados e haverá três policiais de plantão na base. Além disso, cada base terá uma viatura exclusiva. "Adquirimos, em convênio com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, 23 veículos tipo Astra, e forneceremos pistolas tipo Taser e coletes à prova de balas", explicou o coronel Araújo.

Expansão

Com base no projeto-piloto, a ideia é expandir o Ronda Cidadã, bem como os outros programas. O Patrulhamento Inteligente, por exemplo, buscará informações da população que servirão para direcionar as ações ostensivas da PM. Policiais a pé e montados em cavalos percorrerão ruas, avenidas e vielas das comunidades colhendo dados para repassá-los ao Ciosp. Já o Olhar Seguro contará com a ajuda da prefeitura: vai funcionar a partir da integração dos servidores que trabalham como vigias. Em Natal isso será feito pela Guarda Municipal. Os vigias receberão uniformes e radiotransmissores tipo HT, que permitirão o acionamento do reforço policial. A intenção é preservar espaços públicos das ações de vandalismo e de outros tipos de delitos.

No interior, começa essa semana a ser implantado o projeto "Sertão Seguro", levando ações de policiamento ostensivo em áreas com alto índice de criminalidade e ocorrências de alto risco como crimes de pistolagem, assaltos a bancos, roubos de veículos e execuções encomendadas. "Será um grupo itinerante do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), mais bem equipados e com viaturas novas. Daremos prioridade às divisas com os estados do Ceará e da Paraíba. Antes só atuávamos quando acionados. Vamos atuar preventivamente, nos antecipando às ocorrências", concluiu o comandante da Polícia Militar do RN, Araújo Silva.

Polícia e comunidade: incentivando uma relação de amizade

Já foram treinados 60 policiais, e a ideia é chegar a 100 o número de homens preparados para atuar em Nossa Senhora da Apresentação, onde o Ronda Cidadã e o Patrulhamento Inteligente vão funcionar como projetos-pilotos. O tenente coronel Jânio Marinho, responsável pelo policiamento comunitário em todo o Estado, treinou duas turmas lecionando várias disciplinas voltadas para a área de polícia comunitária. "No curso, abordamos a filosofia de polícia comunitária, a questão da ética, dos direitos humanos e disciplina de abordagem", disse. Além do curso de polícia comunitária, os policiais precisam querer participar do projeto, ser voluntários.

No Jardim Progresso, onde o Ronda Cidadã já funciona e a reforma da base comunitária já foi concluída, dois desses policiais já treinados se revezam no plantão e apóiam os três homens que fazem o patrulhamento ostensivo, dentro do próprio bairro. Atuando mais próximo à comunidade, os militares não raramente se tornam amigos dos comerciantes e moradores próximos. Diariamente a dona de casa Ivonete Ferreira passa pela base para cumprimentar os militares e oferecer-lhes um mimo. "Hoje tem sopa?", perguntou um deles. "Hoje não", respondeu a mulher. "Eles adoram a sopa que a minha mãe faz. Sempre trago um pouco", disse ela à reportagem de O Poti/Diário de Natal.

"Agradecer pelo trabalho é um pouco do que podemos fazer para agradar quem trabalha pela segurança do bairro. A maior parte da comunidade reconhece isso", afirmou José Mendes Moura, autônomo. Nem sempre, no entanto, as relações ficam no campo da gentileza. Não raramente os policiais são chamados para apartar brigas de casais. "É mais comum do que se imagina marido bater em mulher, além das denúncias corriqueiras de arrombamentos, furtos e mortes. As ocorrências, no entanto, acontecem a um raio de 500 metros da base. Aqui próximo, inclusive, as casas e o comércio é mais valorizado", destacou o soldado Fábio Ferreira Almeida.

"As pessoas adquirem confiança na gente, fornecemos nosso número de contato, e tentamos resolver os conflitos sem uso da força, que só é aplicada em último caso. Percebemos que quanto maior a presença da polícia na comunidade, mais o meliante fica inibido", afirmou o soldado Romildo Bezerril de Alcântara. "Percebemos, inclusive, em alguns jovens, o semblante de respeito à autoridade policial. Alguns já nos revelaram que admiram a profissão. Isso é muito gratificante".

A Ronda Cidadã circula nas ruas e vias do Jardim Progresso e retorna à base na hora do almoço, preparado na cozinha da unidade. "É um bairro crítico, com alta incidência de crimes e bocas de fumo, mas nós atuamos não apenas neste tipo de conflito. Agora mesmo viemos de uma escola, onde dois estudantes tentavam intimidar uma colega de turma", relatou o comandante da guarnição, soldado Sinicley Baracho.

A próxima base que vai receber a reforma é a do Parque dos Coqueiros. Já chegou a viatura e o material e os policiais esperam a reforma. "Já tivemos todo tipo de ocorrências aqui, inclusive levar uma mulher grávida para ter o filho no hospital. Sem dúvida nosso trabalho vai melhorar com esses investimentos", afirmou o soldado de plantão, Fabrício Souza.

* Dn online

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