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domingo, 10 de abril de 2011

Trânsito supera tráfico em número de mortes

Ao contrário dos assassinatos, cujos autores são punidos quando identificados, nos crimes de trânsito prevalece a sensação de impunidade.

Pela primeira vez no ano o número de mortes no trânsito de Londrina ultrapassou o de homicídios. Do dia 1º de janeiro até a última sexta-feira 20 pessoas morreram em acidentes na ruas, enquanto 19 foram executadas. Levando-se em conta que do total de homicídios pelo menos três casos foram apontados pela polícia como crimes passionais, o trânsito também está matando mais do que o tráfico de drogas.

Mais do que simples estatísticas, os dados revelam um cenário decorrente da falta de campanhas efetivas e da sensação de impunidade contra crimes praticados no trânsito. Defensor de ações educativas permanentes, o especialista em trânsito Sérgio Dalbem diz que campanhas esporádicas refletem omissão das autoridades. “[O poder público] Está cometendo um crime que é pior do que a infração de trânsito que ele fiscaliza. A campanha é obrigação.” Para ele, sem campanhas em conjunto com ações de fiscalização, os números só tendem a aumentar. Dalbem disse que todos os motoristas cometem pequenos erros de trânsito, que se potencializam pela falta de consciência e de punição. “Cada condutor acaba fazendo a própria lei. Como não há uma fiscalização constante, os motoristas acreditam que não serão punidos, então acabam cometendo erros, que resultam em acidentes.”

Em sete anos de Tribunal do Júri, a promotora Suzana Lacerda disse ter denunciado apenas quatro casos de acidentes de trânsito. Para ela, isso aumenta a sensação de impunidade entre os motoristas. A promotora afirmou que, no caso do trânsito, existe a cultura da não punição, pois as pessoas se colocam no lugar do réu. “Muitos dizem: ‘quem um dia não dirigiu embriagado ou não acelerou demais e poderia ter causado um acidente, matado uma pessoa?’” Para ela, se de um lado as pessoas são inflexíveis em relação aos homicidas, de outro, acabam complacentes com criminosos do trânsito.

A promotora disse que a dificuldade de juntar provas para mostrar que os motoristas assumiram o risco de causar acidentes com mortes é uma das causas para que poucos processos cheguem ao Tribunal do Júri. Suzana exemplificou com o caso de um motorista denunciado em 2006 por homicídio com dolo eventual (quando a pessoa não quis matar, mas assumiu o risco), no entanto, o caso foi qualificado como homicídio culposo (quando não há a intenção de matar). “Ele estava a 110 km/h na Rua Goiás [centro], via com velocidade máxima de 40 km/h, furou o sinal vermelho e bateu em outro carro, com o motorista morrendo no local. Se isso não é dolo eventual, não sei o que é.” A promotora defende maior agilidade para o julgamento dos casos de mortes no trânsito e um maior rigor nas punições.

“As pessoas precisam falar mais de trânsito”

O especialista Sérgio Dalbem ressaltou que as pessoas precisam falar de trânsito assim como discutem “futebol e novela”. Ele argumentou que quando os motoristas e pedestres discutem o tema ou são abordados por campanhas educativas ou, ainda, leem reportagens sobre o tema em jornais, todos tomam mais cuidado no trânsito.

Como justificativa para esse argumento, Dalbem destacou os números de mortes no trânsito de 2009, quando 55 pessoas perderam a vida em acidentes. Naquele ano, motoristas e pedestres foram alvo da campanha “Pé na Faixa”.

Na comparação com os homicídios, as vítimas representaram a metade dos 130 assassinatos de 2009. Já em 2010, o especialista ressaltou que os números voltaram a crescer pela falta de campanhas: foram 92 mortes na área urbana do Município, segundo relatório da Companhia de Trânsito, quase o dobro do ano anterior.

“Trânsito Legal”

Na semana passada, o Núcleo de Mobilidade Urbana de Londrina anunciou para os próximos dias, depois de dois adiamentos, o início da megacampanha Trânsito Legal, com o objetivo de reduzir o número de acidentes e de reforçar a fiscalização e punição a motoristas infratores. O núcleo é formado por representantes da Associação Comercial e Industrial, Ministério Público, Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), além das polícias Militar e Rodoviária. Crítico, Sérgio Dalbem afirmou que as autoridades ligadas ao trânsito não podem se abster da realização de campanhas, adiando os trabalhos por “falta de material de conscientização”. “Se você não tem material, vá para a rua e converse com as pessoas e motoristas. O Código de Trânsito diz que as campanhas não podem ser feitas esporadicamente. Sempre tem que ter campanha de trânsito.”


Carro na contramão atingiu Renan

Jackeline Rosa Pinto ainda se emociona ao falar sobre a perda do filho Renan, vítima de acidente de trânsito no dia 27 de fevereiro deste ano, na Avenida Via Láctea, Jardim do Sol (região oeste da cidade). Renan Rosa Lourenço, 19 anos, conduzia uma moto CG Titan pela avenida, quando acabou colidindo frontalmente contra um Monza. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu no local.

A mãe lembrou que o motorista do Monza que atingiu Renan dirigia na contramão no momento do acidente e reclamou das informações desencontradas reveladas pela polícia à imprensa. “O motorista se recusou a fazer o teste do bafômetro no local. Estive na Delegacia de Trânsito para prestar depoimento, levei testemunha, mas o caso não andou. Disseram que ele [o filho] estava sem capacete e não verdade. O capacete saiu da cabeça dele no momento do choque com o carro. Sem contar que IML demorou mais de duas horas para retirar o corpo do meu filho do local do acidente”.

Renan não tinha habilitação. A mãe alegou que testemunhas confirmam que ele não estava em alta velocidade, mas não esperava dar de frente com um veículo na contramão da via. (Aurélio Cardoso)

* Jornal de Londrina

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